Coautoria é o processo de engajamento dos usuários na criação de conteúdo. Ela gera laços entre os autores e constrói conteúdo de qualidade superior. Estamos em um momento de tantas mudanças que se mantivermos um pensamento de isolamento ou de trabalho recluso, com a ideia de guardar a informação, todo o processo de inovação e da criação de algo novo a partir da troca de conhecimento fica impraticável.

O processo de cocriação, feito por designers para a construção de novos produtos e serviços, e também a coautoria, por autores de conteúdo, partem do engajamento dos usuários e suas interações com o propósito de uma oferta final superior.

O engajamento em um processo de criação aumenta os laços entre os envolvidos e lhes confere papel de especialistas. Com isso, eles podem contribuir para reverberar e alavancar sua autoridade sobre o assunto e seu marketing pessoal (personal branding).

Coautoria não é algo novo

De acordo com a pesquisadora Lucia Santaella em seu livro Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade, antes do século 17, só o fato de os textos serem compartilhados já era considerado uma garantia de procedência, até mesmo sem identificação dos autores. Naquela época, somente se buscava conhecer os autores que eram transgressores, com o propósito de puní-los.

Ainda nos séculos 17 e 18, os textos científicos eram válidos, mesmo sem autoria determinada. O conjunto sistemático ao qual eles pertenciam é que lhes concedia o devido valor. Quanto muito, o nome do autor servia para batizar o teorema, fato ou pensamento.

Apenas no final do século 18 vem a necessidade de criar regras de propriedade intelectual, de direitos do autor e de reprodução de sua obra. É quando também surgem as relações entre autores e editores.

Para Lúcia Santaella, a função do autor consiste na edificação perpétua envolvendo pensamento e obra. Não é possível assinar o nome de um autor em uma obra se ele não tem relação com ela. “Não basta atribuir um discurso a um indivíduo” (Lúcia Santaella).

A partir do momento em que os textos passam a ter um autor, Santaella explica que o autor encontra sua morte. Justamente no momento em que começa a vida da escritura. Enquanto a obra não existia, os textos podiam sofrer mutações, mas após seu registro isso deixa de ocorrer.

Quando se busca a origem de um texto, encontra-se seu verdadeiro significado, o qual não pode mais ser ignorado e interpretado de outras formas. Quando mais de um autor é consultado, pelo acúmulo de conhecimento é possível desenvolver uma nova variação. Segundo Roland Barthes em seu livro Rumor da Língua, “uma narrativa nunca é assumida por uma pessoa, mas por um mediador, xamã ou recitante". Assim, "o autor não é senão 'um princípio de economia na proliferação do sentido'" (Michel Foucault).

Cultura Pós-Humana

O pós-humano é o momento de convergência entre o homem e o digital, a ponto de se tornarem quase um só. Por exemplo, uma pessoa que usa prótese agrega um novo elemento que já se torna parte de seu corpo, com o qual ela tem uma relação direta. É uma mudança na forma como nos vemos. Já é impossível imaginar um adulto sem um aparelho celular.

Da mesma forma como usamos a tecnologia, também podemos fazer parte dela. É o caso das redes neurais, manipulação genética, realidade virtual. Um exemplo bem próximo é o videogame com seus jogos de vida artificial, onde mesmo você não jogando fisicamente, os personagens têm vida própria em um mundo paralelo. Como no caso dos jogos do tipo Massive Multiplayer On-line Role-Playing Game (MMORPG).

Como a evolução das tecnologias e nossas limitações individuais, torna-se cada vez mais habitual a prática de trabalhos coletivos e colaborativos. Isso ocorre tanto em trabalhos menores, executados por artistas e técnicos em processos comuns, como em grandes processos, como a criação de um filme de cinema. O diretor compartilha a autoria com roteiristas, iluminadores, fotógrafos, figurinistas, com uma variação de competência entre estes coautores.

No pós-humano, o receptor faz parte do coletivo que contribui para a obra nesta nova forma de criação interativa. Ela acaba se tornando uma obra bidirecional, diferente do que ocorre no teatro e televisão. Essa inclusão permite um remix, não apenas do indivíduo, mas de um grupo inteiro participativo interagindo com uma tecnologia dinâmica.

"A interatividade não é somente uma comodidade técnica e funcional, ela implica física, psicológica e sensivelmente o espectador em uma prática de transformação." (Julio Plaza)

Assim como os coautores precisam estar capacitados para lidar com essas tecnologias mutáveis, os usuários precisam ter competências e ser receptivos à experimentação, desordem e colaboração. O pós-humano conta com a inteligência artificial e as redes colaborativas de coautores.

As redes sociais são os maiores exemplos de coautoria, onde indivíduos ou grupos se relacionam entre si. Essas redes também podem permitir a criação de conteúdo de artigos científicos e estes podem ser uma forma de documentar essa coautoria.

A coautoria também está presente na plataforma de ensino a distância num processo de aprendizado, onde os alunos podem contribuir em grupo e individualmente até concluir determinadas tarefas, assim como os professores podem ser coautores na produção do conteúdo das aulas.

A coautoria também é vista em plataformas de Wiki. Elas são criadas e alteradas sem qualquer revisão, e o exemplo mais conhecido é a Wikipedia.

Com todo esse movimento de coparticipação, Santaella questiona se o talento individual está prestes a desaparecer, o que nos leva a crer que sim. Mas a troca de conhecimento entre os participantes desse processo pode permitir a inovação em um período menor de tempo.

E você, qual é sua opinião sobre a coautoria? Deixe nos comentários.

Fontes: